13 de outubro de 2017

Formadores de opinião



Um dos grandes motivos de eu embarcar nessa jornada de criar um blog e postar coisas aleatórias sobre mangás e HQs, é porque gosto de ler sobre. Após uma grande pausa no consumo desse tipo de conteúdo, voltei a ler blogs sobre mangás e animes esse ano. Apesar disso, é inegável que a maior fonte de conteúdo sobre qualquer assunto atualmente, pelo menos no quesito alcance, é o YouTube. O crescimento rápido da plataforma permitiu que grandes criadores de conteúdo migrassem ou expandissem suas ideias para uma mídia mais audiovisual, mais direta, com menos leitura. Embora tenha suas grandes vantagens, e eu ser ávido consumidor de alguns canais, o YouTube pra mim apresenta uma grande falha: o afastamento entre público e criador de conteúdo.

Os canais que acompanho frequentemente por lá, no geral, são apenas sobre entretenimento leve. Canais como H3H3Productions, iDubbbztv, SirSebastian (que é uma pérola subapreciada), entre outros. Apenas alguns apresentam um viés mais reflexivo, como por exemplo, o excelente canal brasileiro quadroembranco, ou o internacional School of Life. O grande problema, a meu ver, não vem com a plataforma em si. Tecnicamente, qualquer um pode comentar e ter destaque via likes. O problema é que com a expansão do conteúdo vem o aumento de público consumidor, e o que geralmente tende a ser mais bem quisto por essa comunidade não são coisas tão interessantes assim. Piadas geralmente são o que se costuma encontrar no topo. A visão geral sobre o YouTube também é essa. Ninguém pensa que é uma plataforma para discussões, e sim uma plataforma de vídeos com comentários.

Além disso, há ainda a questão da formação de opinião. Por essa passividade do público frente ao conteúdo consumido, sem debate, ocorre a falta de troca de ideias. Uma pessoa que assiste um vídeo e tem algo interessante a comentar talvez nunca tenha likes o suficiente para que seu comentário seja visualizado pelo criador do conteúdo ou pela comunidade. Isso acaba criando a hegemonia da opinião (ou aparência dela), quando apenas pessoas que concordam com o ponto de vista apresentado aparecem nos comentários populares. A consequência direta é que a opinião do criador do conteúdo passa a ser vista como verdade absoluta, incontestável, e propagada por aí sem uma maior reflexão sobre o assunto, não importando se é bem embasada e coerente, ou não. Esse fator, aliado à falta de maiores criadores de conteúdo (na área especifica dos mangás é animes no Brasil, nesse caso) acaba por formar um público menos crítico, ao contrário do que devia acontecer.

As pessoas, no geral, costumam consumir conteúdo demais, e analisar de menos, e infelizmente, ler menos análises sobre esses conteúdos ainda. O que me soa muito paradoxal no meu ramo de interesse, os mangás, que são tecnicamente textos com imagens. O mercado de mangás brasileiro tem crescido exponencialmente, e os animes já são tão difundidos na internet brasileira que é quase impossível conhecer alguém (da nossa geração, é claro) que não tenha assistido pelo menos Naruto. Mesmo assim, pouco se vê discutir os assuntos pertinentes à mídia. Não há um site ou um grupo dedicado exclusivamente a isso. Não há uma exploração mais aprofundada de temas. Para mim, grande parte disso se deve ao fato da plataforma de comunicação digital mais usada atualmente, o Facebook, restringir o alcance de publicações de páginas e grupos por motivos monetários. Uma plataforma que começou com o intuito de comunicação social se transformou em uma quimera comercial que a cada dia se deteriora mais e mais. Há ainda a proibição de divulgação de conteúdo em alguns grupos. É compreensível, pois a facilidade de criar conteúdo aumentou, o que sem essa regra poderia ocasionar o entupimento de tais grupos por spam. É possível que uma nova rede social surja e tome o lugar do facebook, ou que eu esteja errado e as discussões já existam em algum lugar da internet que desconheço. Talvez ainda seja cedo demais para cobrar isso do nosso mercado que apesar de crescente, ainda é jovem. Não sei dizer, apenas espero que no futuro os mangás sejam tão difundidos e debatidos quanto os grandes comics americanos.

E aí entramos nós.

Quando criamos esse blog, a minha ideia foi de ter um público ativo, que lê e dá suas opiniões, ou pelo menos demonstra interesse. A minha intenção com quadros como o "primeiro impacto", ou o ainda não lançado "um tiro no escuro", que vai tratar de one shots e mangás de volume único, é esse. Introduzir novas obras a pessoas que não as conhecem, para diversificar o conteúdo consumido. Apesar do mercado tão crescente, o público brasileiro, no geral, ainda não deu o passo além do Battle Shonen. E não me entendam mal, sou um ávido consumidor de Battle Shonen (tá ali na Bio, ó), mas de maneira nenhuma fico preso somente a esse gênero. O que falta ainda, muitas vezes, na comunidade otaku BR é o chamado "passo além", e eu quero me juntar a essa blogosfera brasileira e ajudar ainda mais as pessoas a conseguirem dar esse passo. O intuito não é ser um formador de opinião, mas um fomentador de opinião.

E eu espero que você, que está lendo esse texto agora, esteja pronto para dar esse passo conosco.